A arte mural NPM: uma experiência autogestionária

A mostra traz o trabalho do Núcleo de Painéis e Murais (NPM), integrado por artistas, na sua maioria estudantes de Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS ou egressos do mesmo curso. A arte mural é essencialmente uma arte coletiva, com um processo de aprendizado permanente, onde cada integrante encontra nos seus pares um aliado para criar novos projetos.

O NPM atualmente é integrado por Ariana Ferrari, Alejandro Ruíz, Carlos Eduardo Galón, Heloisa Germany, Sarah Szekir, Luana Mitto, Giovana Leal, Sheila Prade, Eduardo Müller, Glenda Soares, Silvia do Canto, Roberta Agostini, Simone Rodrigues, Gilberto Menegaz, Lucas Lima, Antonia Indruziak e Talins Souza. A coordenação é de Saraha Szekir e Alejandro Ruíz.

O grupo também é responsável pelo mural pintado na fachada da Ecarta.

Paulo Gomes, gerente artístico da Fundação Ecarta

Ramon Alejandro Ruiz Velazco, coordenador do Núcleo de Painéis e Murais e presidente do Centro Acadêmico Tasso Corrêa, do IA, da UFRGS.

Quando iniciou em 2005, dentro do Centro Acadêmico Tasso Corrêa, o intuito era o de congregar estudantes e artistas que tinham interesse em trabalhar com a pintura em grandes dimensões, em especial com a pintura de murais. Mas não se tratava apenas de pintar em grandes espaços, e sim criar pontes entre o público e a arte – caminhos de mão dupla: pintar e ao mesmo tempo trabalhar com uma arte vinculada com as pessoas, uma arte integrada à identidade cultural.

Como projeto de Extensão do Centro Acadêmico, o próprio NPM se organizou, criou seu regimento interno e sua dinâmica de trabalho, com reuniões semanais e coordenação própria. Mais de cinqüenta estudantes já passaram pelo Núcleo nesses quatros anos de existência. A riqueza desse projeto é a sua principal característica: a diversidade, com artistas de diversos estilos e experiências variadas.

Nesse sentido, foi natural o encontro com a arte do Muralismo – uma das correntes artísticas mais importantes do século XX, e que é essencialmente latino-americana. Na medida em que os artistas começaram a pesquisar, a paixão pelo muralismo foi crescendo, e a identificação com o mesmo também.

A descoberta de que a arte mural continua vigente tanto na América Latina quanto no “Primeiro Mundo” deram ao Núcleo novas referências, inclusive, para atuar dentro de correntes artísticas atuais, sem medo de realizar uma arte “extemporânea”.

Na América Latina, coletivos de artistas recuperam o muralismo como expressão de identidade. No Chile, por exemplo, as “brigadas” de muralistas, que começaram na década de 60, permanecem ativas, em especial, a “Ramona Parra”, que, em 1973, realizou uma exposição no Museo de Arte Contemporânea do Chile. Na Nicarágua foi criada, na década de 80, a “Universidad Nacional de Arte Pública Monumental David Alfaro Siqueiros”. Na Argentina, inúmeros coletivos existem por todo o país, profundamente envolvidos com as questões sociais. No Uruguai, existe a disciplina de Pintura Mural na Escola De Artes Pedro Figari.

Nos Estados Unidos, várias cidades têm adotado a arte mural como forma de combater a poluição visual e o grafitti, com programas governamentais de apoio a produção e preservação dos Murais. Los Angeles é considerada a “Capital Mundial da Pintura Mural”, com um programa de visitação as obras, que são mais de 1500 na cidade. Na Philadelfia, a arte mural faz parte de um programa da Secretaria de Saúde, pois trabalha com as questões da imagem da cidade, da inclusão e de identidade, bem como de geração de renda.

Na Europa se destaca o coletivo Francês (que também tem sua filial no Canadá) “Cité de la Creation”, com obras das mais diversas, e sempre apostando numa linguagem acessível a todos os públicos.

Mas também o NPM tem como objetivo a pesquisa sobre a arte mural do RS, que teve expoentes inclusive no próprio IA, como o reconhecido Aldo Locatelli ou o professor Corona, com seus painéis cerâmicos.

Iniciaram seus trabalhos, em 2005, realizando uma parceria com o Curso de Nutrição da UFRGS. Foram pintados painéis para os RU’s do Centro e do Vale, para as comemorações da Semana Farroupilha. No mesmo ano, realizaram painéis para a Semana Acadêmica do Curso de Relações Internacionais.

Em 2006, o Núcleo teve um grande desafio, a pintura de um mural. Em Santana do Livramento, com a história do município. Em consonância com a proposta, a decisão foi pintar não a história “oficial” da cidade, e sim a outra história, dando voz e tom aos que sempre ficam fora do imaginário artístico oficial: os índios, os escravos, os farrapos, as mulheres.

Em 2007, o NPM iniciou o ano pintando um grande painel de 15m x 9m, com a logomarca criada pelos estudantes para os 100 anos do Instituto de Artes da UFRGS. E, no mesmo ano, o NPM iniciou sua parceria com a Escola de Samba Bambas da Orgia, onde encontrou um espaço ideal para veicular seu trabalho num espaço ímpar: a passarela do samba.

Para os carros alegóricos do Bambas, em 2008, o NPM pintou reproduções da obra de Aldo Locatelli, de João Farhion e um painel com a imagem da sede do Instituto de Bio-Ciências, prédio reivindicado pelos estudantes para sediar o IA. Foi de autoria do NPM também a pintura que fazia parte da Comissão de Frente dessa escola em homenagem ao pintor francês Jean Baptiste Debret, criador da Escola de Belas Artes. Para o carnaval de 2009, repetiu a experiência, desta vez pintando imagens das capas dos discos de Clara Nunes.

Em 2008, pintou uma série de painéis sobre “Maio de 68” para o DCE da UFRGS; um painel na Colônia de Férias da UFRGS, em Tramandaí.

em cartaz
Até 19 de abril de 2009 de terça a domingo | das 10h às 19h
Entrada franca

local
Fundação Ecarta – Av. João Pessoa, 943 – Porto Alegre