Freddy Mamani usa prédio da Ecarta como tela na Bienal

A nova arquitetura andina tem uma de suas marcas agora em Porto Alegre a partir desta quinta-feira  27/03. O artista, arquiteto e engenheiro Freddy Mamani pintou o prédio da Fundação Ecarta com este estilo como parte da 14ª Bienal do Mercosul e deixa esta obra como um legado para a cidade que completa 253 anos.

O artista é responsável por cunhar este estilo de construção e pintura incorporando elementos gráficos de toda a cosmologia dos povos dos Andes, integrando desenhos artesanais dos têxteis dessa região da cordilheira.

Mamani construiu mais de 70 prédios com esta estética na cidade de El Alto, onde vive na Bolívia, com esse estilo também batizado de neo-andino ou cholet, combinação das palavras “cholo” e chalet. Fora de seu país ele tem suas marcas no Peru e a partir de agora no Brasil onde também pintou um barco na Bienal das Amazônias Sobre as Águas, no Pará.

Notabilizado por sua arte, Mamani tem suas obras expostas na Fundação Cartier, em Paris, no MoMA, em Nova Iorque, na Bienal de Sydney, entre outros.

Cosmologia andina

O público lotou o auditório da Ecarta nesta manhã para ouvir o artista sobre as características da sua obra e acompanhou a explanação também na parte externa, sobre as simbologias expressas nas cores e formas.

Uma  das figuras pintada em dois formatos na lateral do prédio é a chakana,  ou cruz andina, um símbolo de proteção e sabedoria ancestral, incorporando valores como reciprocidade, harmonia com a natureza e vida em comunidade.

“É um lembrete para manter o equilíbrio entre o ser humano e o ambiente, respeitando e protegendo a mãe terra ou pachamama”, pontuou o autor, um imigrante indígena do povo aymara da pequena comunidade de Catavi, no interior do país.

“Minha arquitetura e o que faço é um modo para que esses povos originários marginalizados se mostrem com força e trato de representar os povos andinos e amazônicos que estão esquecidos e marginalizados”, enfatizou. Para ele, é necessário valorizar os povos originários e a arte é um meio de fortalecer os indígenas mostrando seu poder criativo.

Arte indígena valorizada

“Vejo que esta arquitetura está sendo muito bem recebida aqui”, ressalta ele que esteve nas últimas duas semanas pintando as paredes com seu assistente e conterrâneo Marcos Quispe e uma equipe de auxiliares locais, chamando a atenção de inúmeros passantes admirando o processo e o colorido do prédio que fica na esquina da Lopo Gonçalves com a Avenida João Pessoa, de frente para o Parque Farroupilha (Redenção).

A arte e a arquitetura são linguagens. Nós, latino-americanos, somos diversos, mas somos todos como irmãos e podemos fazer essa integração com o que fazemos em cada região”, completou.

Para o artista, a Bienal é importante também para integrar os povos e as culturas. “Como seres humanos podemos criar e andar juntos”.


Celebrando o trabalho de quatro artistas internacionais

Para comemorar os artistas da Bienal que a Galeria Ecarta recebe pela primeira vez, e também como parte das comemorações de 20 anos da Fundação, sábado, dia 29/03, será celebrada a abertura das exposições, precedida de conversa com o curador e crítico de arte cearense, Lucas Dilacerda, que falará sobre sua pesquisa e trabalho curatorial na Pinacoteca do Ceará.

Uma apresentação de danças latino-americanas com as bailarinas Carla Pfeifer e Marta Severo, do grupo Folcloreando, completa a programação da mostra que conta na parte interna da casa com obras das artistas estrangeiras Minia Biabiany (França), Tang Han (China) e Sara Modiano (Colômbia).

“Estamos muito felizes e honrados com esta participação que coincide com as festividades de 20 anos da Fundação Ecarta e representa um reconhecimento da nossa atuação como espaço de arte contemporânea desde 2005, ano em que inauguramos nosso primeiro projeto, que é justamente a Galeria Ecarta”, comemora Marcos Fuhr, presidente da Fundação Ecarta.

Haverá uma equipe de seis pessoas na Fundação oferecendo mediação para escolas sob agendamento prévio no site da Bienal, a partir de 10 de março. Farão atendimento ao público no horário de funcionamento da Ecarta (terças a domingo, das 10h às 18h) até 1º de junho, de acordo com o fluxo de visitação.

Um estalo para a mudança

Com olhar para o mundo em mudanças, a 14ª Bienal do Mercosul abriu as portas para o público neste dia 27 de março com uma programação totalmente gratuita que prossegue até 1º de junho. A mostra tem como conceito principal a ideia de “Estalo” e conta com 77 artistas de 31 países, que exibem suas obras em 18 museus e espaços culturais da capital gaúcha.

“Realizamos uma longa pesquisa e esse processo culmina agora na abertura da Bienal, que tem como uma das características principais a capilaridade, por termos exposições e atividades em diversos pontos de Porto Alegre e Viamão, na região metropolitana”, ressalta o curador-chefe Raphael Fonseca.

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