A complexidade dos cuidados no tratamento de queimados

A Fundação Ecarta e a Sociedade Brasileira de Queimaduras firmou parceria para fortalecer o movimento nacional para o uso da membrana amniótica como curativo para tratamento de queimaduras e outras patologias.

Foi constituída uma frente nacional para apressar a regulamentação do procedimento no Sistema Único de Saúde, que atende 95% dos pacientes com queimaduras estimados em mais de 100 mil ao ano que necessitam de internação.

Esta frente conta com o apoio da Associação dos Familiares e Vítimas do Incênco de Santa Maria, juntamente com Bancos de Tecidos, Unidades de Queimados e várias outras organizações.

No Rio Grande do Sul há somente dois Serviços de Queimados habilitados em funcionamento, um no Hospital de Pronto Socorro e outro no Hospital Cristo Redentor, ambos em Porto Alegre, integrantes da Frente Nacional em Defesa da Membrana Amniótica em Queimados.

Queimaduras são lesões dos tecidos orgânicos decorrentes de agentes (tais como a energia térmica, química ou elétrica) que são capazes de produzir calor excessivo danificando os tecidos corporais e acarretando a morte celular.

No Brasil, dois terços dos acidentes envolvendo queimaduras são protagonizados por crianças, que passam a conviver com as sequelas, estéticas e funcionais, para o resto de suas vidas. Nesse sentido, explica-se os investimentos, parcerias e iniciativas cada vez mais encorpados em campanhas de prevenção das queimaduras na infância. De acordo com estudo, foi observado que em 80,7% dos casos de queimadura infantil um dos pais estava no local do acidente, mas não estava alerta para o risco do acidente.

A gravidade da queimadura é proporcional à magnitude do trauma. Quanto mais extensa a lesão maior a inflamação e maiores são as chances de disfunções respiratórias, circulatórias, choque, infecção e óbito. É possível estabelecer uma proporção direta entre praticamente todas as complicações com a extensão da área queimada.

A complexidade de uma queimadura é avaliada pela associação entre agente causador, tipo de queimadura e extensão da área queimada, assim como o acometimento de algumas áreas corporais específicas.

Todo o queimado moderado ou grave necessita atenção hospitalar. No queimado grave, a atenção deve ser voltada para as condições de manutenção da vida, sendo necessários cuidados em unidade de tratamento intensivo com acompanhamento de um cirurgião geral.

As unidades de tratamento especializado de queimados devem ser utilizadas sempre que possível, com a maior brevidade possível para encaminhamento, mas não se deve perder tempo aguardando-as para iniciar e tratar o queimado grave, que necessita de cuidados intensivos.

 

No último dia 25 de julho, um conjunto de entidades e instituições lançou uma Frente nacional pelo uso de membrana amniótica no tratamento de queimaduras.

A membrana amniótica é um tecido proveniente da parte interna da placenta de partos por cesariana, material hoje descartado, considerado o melhor curativo cutâneo para redução da dor e rápida cicatrização em diferentes patologias.

Na tragédia da Boate Kiss em 2013, o curativo biológico foi autorizado excepcionalmente para tratar centenas de pacientes queimados, contando com a generosa doação de membranas amnióticas de diversos países, principalmente de nossos vizinhos.

E há apenas quatro bancos de tecidos do país que mal suprem 10% das necessidades de curativos de pele, hoje provenientes apenas da doação de tecido humano em casos de óbito cardiorespiratório ou morte encefálica.  Com a regulamentação da membrana amniótica atenderá 100% da demanda do Brasil.

Assim, fica por conta das peles sintéticas e demais medicamentos curativos o tratamento das milhares de vítimas de graves queimaduras que ocorrem no país todos os anos, das quais 30% em crianças.
Enquanto o centímetro quadrado do curativo sintético fornecido pela indústria farmacêutica custa R$ 50,00, o de membrana amniótica custaria R$ 0,10. São dezenas de centímetros sintéticos usados a cada curativo, diariamente com enormes custos para o SUS.

O Brasil é um dos poucos países em que não está regulamentado o uso deste material, com exorbitantes comprovações de eficácia, farta disponibilidade e baixo custo.

A expectativa é que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), agilize finalmente a conclusão do processo regulatório para o uso da membrana no tratamento de queimaduras.

Com isso, milhares de pessoas terão recuperação mais rápida e o procedimento será decisivo para salvar muitas vidas.

painelistas

Cirurgião Plástico, Representante Interinstitucional da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), Membro do Núcleo de Queimaduras do CFM, Coordenador de Cirurgia Plástica e Queimaduras do Hospital Santa Lucia Sul/DF

Sobrevivente da tragédia de Santa Maria

data
24 de setembro de 2024, 19 horas

local
Transmissão pelo pelo canal da Fundação Ecarta no youtube,  Facebook  e Instagram do projeto Cultura Doadora

apoio
Sinpro/RS e SBQ