Ode a Phobos (ou como é bom não ter memória)

Dois questionamentos estão no cerne da pintura de Letícia Arais Lopes: o papel da imagem impressa como indício e o lugar da pintura como linguagem. “Como Gerhard Richter ou Aby Warburg, meu interesse pela imagem como código, alfabeto ou família pressupõe que há algo a ser visto além dela mesma, que não é só múltiplo, pois é revelado na aproximação e reorganização de várias imagens, mas também latente: está apenas à espera da próxima imagem, coisa ou desenho que lhe completará o significado. Talvez completar não seja o termo correto, quem sabe enriquecer, ou até ameaçar”, diz a artista.

O objetivo de Letícia é testar a pintura. A esse modo de operação, ela une imagens de revistas, enciclopédias, fotografias e jornais. “Rabisco, recorto, pinto, rasgo, colo e, de repente, surge em miniatura uma imagem amedrontada, desprovida de poder porque já não se refere a nada óbvio, nada em que se possa apoiar a linguagem verbal. Assim, como pista, é uma imagem nova e, ao transpô-la para a tela através da tinta, consigo revelá-la, finalmente, sem memória alguma, pois essa memória agora pertence somente ao gesto, falho e infiel, do pincel”, considera a autora.

A partir desse procedimento originam-se os conjuntos de telas apresentados na mostra, que pretendem também, ao aparecerem dispostas no chão, lançar uma provocação ao estado estático da percepção pintura/parede que é historicamente naturalizado e pertence ao senso comum. “Li em algum lugar que um homem livre é um homem em estado de perigo, a imagem dessa frase ilustra bem esse trabalho”, define a artista.

artista

É formada do curso de Artes Visuais da Ufrgs. Participa regularmente de coletivas e individuais desde 2011. Em 2014 foi vencedora do 3º Prêmio IEAVI com a exposição individual Em minha fome mando eu, e participou da coletiva Arte. RS, no Memorial do RS. Em 2015 expôs individualmente na Casa Paralela, em Pelotas.

em cartaz
abertura: 24 de junho, quarta-feira, às 19h
visitação: Até 2 de agosto, de terça a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 20h; e domingo, das 10h às 18h
Entrada franca

local
Galeria Ecarta (Av. João Pessoa, 943, Porto Alegre)