ARTISTA+ARTISTA

Urdiduras do Silêncio

Esta segunda exposição do projeto Artista+Artista apresenta a produção recente de Antônio Augusto Bueno e de Leandro Machado. Os trabalhos evocam diversas faces da ideia de silêncio. A exposição privilegia trabalhos sobre papel e explora suas delicadezas e fragilidades como potências poéticas e reflexivas

Os desenhos de Antônio Augusto convocam à contemplação silente, fruto do equilíbrio entre espaço e marca.

O trabalho de Leandro Machado aborda o silenciamento na vigência do golpe cívico-militar,  e o silêncio frente ao imponderável oriundo da tragédia promovida pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

os artistas

(Porto Alegre/RS, 1972)
Antônio Augusto dedica-se à pesquisa artística há mais de 25 anos, com poética inspirada nos processos da natureza. Tem o olhar atento aos elementos naturais que se encontram por onde caminha habitualmente. Trabalha com diferentes linguagens, tais como desenho, pintura, gravura, escultura, instalação e vídeo. O artista vive em Porto Alegre, onde mantém seu atelier, o Jabutipê, que também é espaço de diálogos e encontros em torno das artes visuais.  É Bacharel em Desenho (2004) e em Escultura (2008) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Expõe regularmente no Brasil e Exterior.  Entre as individuais destacam-se: “Em casa” – Universidad Católica del Uruguay (Montevideu/UY), “Antes era só o vão” – Galeria Mamute (POA/RS), “Um outro outono” – MARGS, “Música de passarinho” – MAC RS, “Cabeças – armadilhas para um significado” Museu do Trabalho (POA/RS), “Gravetos Armados em processo na Pinacoteca” Pinacoteca Ruben Berta (POA/RS), “Desenhos”, Galeria Dezenove (Rio de Janeiro/RJ).
Entre as coletivas destacam-se “Sustratos”- Museu Zorrilla (Montevideu/Uruguai), “Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira – Santander Cutural (POA/RS) e Parque Lage (Rio de Janeiro/RJ), Emprunts Empreintes – Salon du Vieux Colombier (Paris/França), ArtLive 2011 – CATM Chealse (Nova Iorque/EUA), “Aã” – Fundação Vera Chaves Barcellos (Viamão/RS). Possui trabalhos em acervos de instituições como Museu de Artes do Rio Grande do Sul, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Pinacoteca Rubem Berta (Porto Alegre/RS), Pinacoteca Barão do Santo Ângelo (Instituto de Artes/UFRGS), Fundação Vera Chaves Barcellos (RS), Fundação Franklin Cascaes (Florianópolis/SC), Universidade de Caxias do Sul (RS) e em coleções privadas como Mônica e George Kornis. Entre as publicações destacam-se os livros: “Jabutipê”, “O último homem na lua” e “Linha de vôo”.

(Porto Alegre/RS, 1970)

De Xangô e de Obá. Bacharelado em pintura – UFRGS. Especialização em saúde mental –
ESP/RS. Participa da mostra “Dos Brasis”, atualmente no Sesc Quitandinha, em Petrópolis/RJ.
Algumas premiações: 5o Concurso de Arte Impressa Goeth-Institut Porto Alegre, em 2020 e o
1o Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea, Aliança Francesa, Porto Alegre, 2017.
Possui trabalhos nas seguintes coleções: Adriana Varejão; MACRS; MAR; MARGS; Paulo Sartori.

curadoria

(Porto Alegre, 1986).

Artista e professor. Doutor em História, Teoria e Crítica da Arte pelo (PPGAV-UFRGS). Professor adjunto dos cursos de Artes Visuais (Licenciatura e bacharelado) na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e docente colaborador no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV-UFRGS).

Urdiduras do silêncio

Felipe Caldas

Após as enchentes que abalaram o Rio Grande do Sul qual o sentido de realizar uma exposição?  Como olhar o Guaíba ou sentir o cheiro da chuva e o assubiudo vento como em outrora?Não sei responder objetivamente, a não ser por uma urgência incontornável de fazer arte.  O desastre que assolou o Estado alterou a exposição, seja em seus  sentidos,  seja em sua organização e nos trabalhos planejados. A tragédia abriu espaço para um silêncio inominável.

Urdiduras do silêncio apresenta a produção recente de Antônio Augusto Bueno e de Leandro Machado. Trata-se de encontros,de fabulações constituídas de cruzamentos, de vivências partilhadas num mesmo território geográfico e cultural, sobretudo, Porto Alegre. Urdir o silêncio é tramar suas noções, é contar e sobrepor histórias, tecer outras percepções por meio da união de artistas distintos e com intenções aparentemente diferentes, mas que juntos formam um único tecido e exibem a complexidade de tal tema.

O silêncio comunica aquilo que talvez nenhuma linguagem consiga comunicar. Pode vir a acalmar, a amparar,a aconchegar, mas, igualmente, a ferir, a violentar. Ainda, é a expressão de um vazio quando confrontado com o inevitável.Por vezes, buscamos o silêncio como caminho de cura, mas, quando ele nos é imposto, retira de nós a própria humanidade. Os desenhos de Antônio Augusto exibidos nesta exposição convocam um silêncio contemplativo, enquanto o trabalho de Leandro Machado retoma o silêncio em duas vertentes, uma oriunda do silenciamento, tendo como base o período de vigência dogolpe cívico-militar, e outro, o silêncio frente ao imponderável fruto da tragédia vivida.

Na contemporaneidade, na era do ruído, seja audível, seja imagético, o silêncio pode ser refúgio ou caminho para a cura e o sagrado em determinadas tradições religiosas/filosóficas.  Frases, como “O silêncio é uma prece”, ou a busca pelo silêncioatravés da meditação como meio de conexão com o sagrado são perseguidas cotidianamente. O silêncio a que o trabalho de Antônio Augusto nos convoca é o da conexão com o todo, com a delicadeza, com o amor e com a leveza do ser. O silêncio não é o papel em branco, mas o equilíbrio entre a marca e o espaço. O silêncio advém do não dito explicitamente,a favor do conteúdo intrínseco àforma que nos convoca à contemplação.Os desenhos são constituídos a partir de incisões, perfurações e pressionamentossobre  papel carbono geralmente utilizado para costura. O papel carbono será tanto meio quanto fim. Antônio Augusto, urdi com a delicadeza, coma forma e com a cor.

Leandro Machado,lembra-nosque o passado está presente entre nós. Do fechamento de exposições àsombra de 1941. Os desenhos/frotagens de Leandro Machado são reações imediatas à tragédia. Provocam no espectador um silêncio angustiante, talvez, traumático.  Um silêncio oriundo de um transbordamento emocional, psíquico, frente à força imponderável da natureza. A palavra “esgoto” que se repete nos desenhos é uma metáfora ao próprio esgotamento ecológico e individual, subjetivo, de quem teve suas pernas mergulhadas na lagoa.      Conclama-nos a nossa própria responsabilidade pelo desequilíbrio ambiental.Se a marca física pode ser rapidamente remediada, apagada, limpa, a simbólica, subjetiva, psíquica arde em nós por vidas. Leandro, urdi com a memória, com o passado, com o presente, com a história e com a arte.

Ao tramar os trabalhos de Antônio Augusto Bueno e Leandro Machado temos a possibilidade de formular outras leituras e abordagens sobre ambos. Talvez nos surpreendermos. O silêncio não é oposição à comunicação, é meio, princípio e fim.

 

o projeto

É o novo programa de exposições da Galeria Ecarta reune nas duas salas da Galeria Ecarta duplas de artistas que, junto às respectivas curadorias, somam suas investigações sobre técnicas, materiais e processos de produção em poéticas visuais, ampliando as conexões entre si, bem como a interlocução com o espaço expositivo e o público no contexto contemporâneo.

abertura
22 de junho de 2024, 10 horas

visitação
até 21 de julho, das 10h às 18h, de terças a domingos, inclusive feriados.

entrada franca