ARTIGO

O vinho e a imigração italiana

Em 20 de maio de 1875, os primeiros italianos chegaram ao Campo dos Bugres, atual Caxias do Sul. Trouxeram em suas modestas bagagens as cepas que se multiplicaram e deixaram mais esperançosos os dias de desafios de sonhar em terras novas.

Os parreirais bordam os morros da Serra Gaúcha, um dos lugares mais visitados do país, tanto pela beleza, como pela experiência de sorver os prazeres que a vitivinicultura envolve em todas as suas proporções.

A  cultura milenar das uvas em todo o mundo descortina um modo de plantar, cultivar, fermentar, decantar e saborear esse conhecimento ancestral transformado em bebida, que se aprimora permanentemente e se difunde em novas geografias.

Nos porões das casas, as pipas atravessam os tempos, enchidas a cada nova safra, impregnadas de saberes e sabores pela força de uma cultura.

La “cucagna” – fortuna, sorte e felicidade em dialeto vêneto – palavra que motivou a travessia do mar para novas terras – foi encontrada no novo país com muito suor.

A terra foi semeada, nutrida, sustentada na persistência em domar as encostas, as roças, os peraus e numerosas famílias se multiplicavam cultivando as videiras entre tantos outros afazeres.

A imigração italiana tingiu o Rio Grande do Sul com as tonalidades da uva e do vinho. A devoção ao trabalho demarcou o desenvolvimento em inúmeras áreas e a dedicação desenhou a paisagem, um modo de vida e uma forma de estar no mundo. Estima-se que mais de 30% da população gaúcha seja descendente de italianos.

Pelo inestimável valor cultural da enologia, a Fundação Ecarta instituiu há 20 anos o Núcleo Cultural do Vinho. Nestas duas décadas, realizou mais de 300 atividades promovendo a formação de inúmeros enoamigos, antigos e novos, celebrando todos os meses do ano o conhecimento em meio à degustações e palestras abertas a todos os públicos, demonstrando as nuances de vinhos e espumantes produzidos em terroirs daqui e do mundo inteiro.

Nessa caminhada, dezenas de vitivinicultores, enólogos, sommeliers, apaixonados por esta cultura desenharam esta história de partilha e bons vinhos, mostrando em grande destaque, as vinícolas gaúchas.

Na programação deste ano, o Núcleo Cultural do Vinho marca essa ligação intrínseca entre a italianidade e a vitivinicultura, incorporando a riqueza culinária em diferentes atividades numa curadoria festiva para estas efemérides, convidando apreciadores e apreciadoras para celebrar esta história feita de vinhos e convivência.  Vamos seguir celebrando o que marcou profundamente a história deste estado.

Marcos Fuhr, presidente da Fundação Ecarta